Crônica: APENAS VÁ!

 


Eu estava esperando-a no lugar combinado. Era bem romântico: um parque ecológico, tinha algumas pessoas, mas estava vazio, época de primavera, então estava bem florido e o clima favorável. Eu aguardando ansiosamente no mirante que tinha no parque, dava a vista para uma lagoa um pouco mais embaixo. Enquanto eu observava uns pássaros pescando, não percebi ela se aproximar.

Geralmente, quando nos encontramos, ela está sempre sorridente e radiante, mas dessa vez algo mudou, carregava no olhar uma preocupação e estava com a voz trêmula:

-Oi! - disse sem me abraçar

Eu que não quis deixar transparecer que estava achando anormal, tomei a iniciativa e abracei acariciando suas costas:

-Oiii! A ansiedade estava tomando conta de mim - eu disse - quero saber logo a surpresa!

-Talvez seja melhor andarmos pelo local, eu achei bem bonito!

-Sabia que ia gostar, por isso que escolhi, vou gostar da surpresa também?

Eu não tive resposta e comecei a me afligir, mas mantive a postura e fingi que estava tudo bem. Então começamos a andar lado a lado no parque, ela evitando meu olhar a todo custo, observando a grama, ora as árvores ou qualquer outra coisa. E eu a observava mais. Sempre esteve estilo kawaii E hoje não estava diferente: uma saia curta rodada rosa, uma camiseta leve branca com um gatinho mal humorado estampado, usava uma meia fina branca, e um tênis todo branco. Nos cabelos estava com um laço rosa.

Andamos até encontrarmos um banco de madeira, e fomos nos sentar, eu coloquei minha mão sobre a coxa dela e ela apenas olhou, em outra ocasião ela teria colocado a mão sobre a minha. Então sem conseguir mais fingir, retirei minha mão e perguntei:

-Estou te incomodando?

Ela apenas balançou a cabeça negativamente

- O que você tem? Parece aflita...

Ela olhava fixamente para seus pés e permaneceu calada.

-Acho que a surpresa que vou receber é negativa, não é?

Ela balançou a cabeça afirmando. Então eu não disse mais nada, deixei que ela tomasse a decisão na hora que estivesse pronta. E ficamos por longos minutos apenas sentindo a brisa e ouvindo a nossa respiração. Até que ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas e por empatia eu a abracei, ela não retribuiu e disse:

-Por favor, não torne mais difícil do que já é.

-O que é difícil? - eu já sabia, mas precisava ouvir

- Não podemos mais ficar juntas!

- Sua família?

- Sim, ela não aprova e então não podemos prolongar

- Você prefere fazer o que sua família quer em vez de escolher o que te faz feliz?

- Não ter a aprovação dela, não me deixará feliz!

- Eu não faço você feliz? Não sou suficiente?

- Não é isso...

- Tudo bem, não vou tornar mais difícil do que já é como disse, eu já entendi!

-Por favor....

-Vai embora! – eu disse com tom forte e triste, me segurando para não ficar no mesmo estado que ela

- Um dia eu vou ir contra todo preconceito e...

-Por favor, apenas vai embora! Enquanto esse seu dia de coragem de se assumir e ir contra todo o preconceito não chega, eu não vou ficar me machucando, então apenas vá! Você disse para eu não tornar difícil, mas você que está fazendo isso, tentado explicar a situação que na verdade não há explicação!

E nesse momento, aquelas lágrimas que estavam paradas em seu olhos que ela lutou tanto para segurar, saíram com toda força. Ela apenas levantou e saiu andando tão depressa que quase corria. E eu fiquei lá, mais uma vez abandonada pela força do preconceito, apreciando a vista e a solidão.

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