Sentado no trem, ao som de Avril Lavigne, ele olhava através da janela e imaginava como seria sua vida se pudesse fazer tudo o que tinha em mente, pegar um ônibus e na estrada observar as paisagens e os gados, rumo a uma cidadezinha no interior. E chegando lá, faria amizade com as senhoras e aprenderia receitas caseiras e a costurar. Será que neste lugar alguém o julgaria? Mesmo sendo do lar? Mas será que neste lugar ele encontraria sua alma gêmea? Ou seria tão difícil quanto na cidade grande? No fundo, essa última, parecia ser sua maior preocupação.
Na cidade grande ele tinha um leque de escolhas, ele tinha uma paleta de lugares onde encontraria essas escolhas. Mas tudo era muito rápido, tudo acontecia rápido, e tudo era efêmero. Ele queria desacelerar, deixar o coração sentir a pessoa, o momento, as atividades. Não queria fazer as coisas mecanicamente, em um ciclo vicioso onde tudo acontecia sempre do mesmo jeito. Por que tudo era sempre igual se cada pessoa é única e tem suas próprias manias e sentimentos e cicatrizes?
Ele queria tempo, queria ter tempo para conhecer essas manias, esses sentimentos e compreender as cicatrizes e quem sabe compartilhar das suas. Mas quem se permitiria isso? As pessoas andam solitárias mesmo em lugares lotados, elas têm medo, da incompreensão e julgamento. Ele era uma dessas pessoas. Ele vivia assim, seguindo o protocolo e fazendo também as mesmas coisas que queria deixar de fazer.
Mas dizem que a esperança é a última que morre, ele ainda tinha essa esperança, escondida lá no fundo do peito, e ela vinha o incomodar durante os momentos que estava a refletir consigo mesmo, na cama, no banho ou mesmo no trem, voltando de um dia de trabalho, como uma máquina, atendendo clientes que só sabiam gritar por seu equipamento não responder seus comandos.
Se ele continuaria nesse ciclo vicioso, se ele continuaria alimentando a máquina da produção e da rapidez, ele ainda não tinha decidido. Queria mudança, sim, mas já não havia tempo, o sinal do trem apitou informando que chegaram à estação onde ele desceria. Sua decisão ficaria para depois, de novo.
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