Conto: A DESCOBERTA

Eles estavam no quarto em silêncio depois de uma conversa nenhum pouco longa. A mãe da garota estava na sala, no andar debaixo, fingindo assistir a novela enquanto olhava aflita para a escada. Logo, ouve-se uma porta bater e surge o garoto descendo as escadas com o olhar triste, ele olhou para a mãe da garota e com um sorriso meia lua se despediu. Aquele olhar, aquele sorriso, Dona Amélia já sabia o que significava. Depois que o garoto saiu, ficou devaneando sem prestar atenção no que passava na TV. Já sabia o que aconteceria depois, e alguns minutos depois estava a prova. A campainha tocou e logo Nicole desceu as escadas com os olhos vermelhos e inchados. Ela estava chorando. Passou pela sala e foi abrir a porta, Denise, sua melhor amiga entrou com olhar preocupado e abraçou, olhando por cima do ombro de Nicole, cumprimentou Dona Amélia com um sorriso preocupado. As duas subiram.
No quarto, uma sentou de frente para a outra e Denise começou:
-Vocês terminaram?
-Na verdade… - ela hesitou - Ele terminou, mas acho que era necessário.
-Não era para ser, com certeza a sua alma gêmea vai aparecer, e ele virá de cavalo branco…
-Não adianta, Denise, acho que nasci para ficar sozinha, eu estou cansada de sempre ser deixada, eu não sei o que tenho. - ela se jogou para trás na cama e ficou olhando para o teto.
-Quer saber, nunca gostei dele, tem cara de zoeiro e só quer bagunçar na vida.
-Está falando isso para eu me sentir melhor!
-Não, é verdade, não disse antes porque era seu namorado e achei melhor não me intrometer.
Enquanto as duas garotas conversavam sobre esse acontecimento, Dona Amélia que estava na sala já ansiosa para ter a certeza do que aconteceu, aumentou o volume e levantou de fininho, subiu as escadas na ponta dos pés, e se aproximou lentamente do quarto de Nicole, estava a escutar a conversa.
-Eu to desolada, mas ele tinha razão, eu não gostava de transar com ele, eu sempre arrumava desculpas e quando fazíamos, não era lá essas coisas.
-Um relacionamento não é feito de sexo, pelo amor Nicole, acha mesmo que esse foi o motivo do término?- Denise deitou do lado dela 
-Claro! Assim, um relacionamento duradouro de construir família não, mas para um romance assim no comecinho, acho que sim.
-Nada a ver - ela revirou os olhos - se ele pensa assim, foi bem melhor ter terminado mesmo, ia ser um relacionamento sem fundamentos.
As duas ficaram em silêncio, depois Denise o quebrou novamente:
-Me diz, os relacionamentos anteriores, foi por causa disso também?
-Você não lembra?
-Sim, e quero ter certeza, você não era ciumenta, deixa eles saírem com os amigos, e quando vocês saíam, se davam super bem, e se não me engano, vocês não brigavam…
-Sim, eu pensei que ser assim, era ser a namorada ideal, mas parece que eles gostam das ciumentas que gritam.
Denise deu uma risada nervosa.
-O que eles querem é só sexo, e isso era a única coisa que você não dava direito… - silêncio enquanto Dona Amélia fazia caretas atrás da porta por descobrir que sua única filha já não era uma criança.
-Com todos o motivo do término foi o mesmo?
-Sim.
-Por que? Nenhum era bom?
-Denise… - ela a olhou e esperou continuar - Acho que está na hora de encarar os fatos, eu gostava deles sim, mas eu nunca tive atração sexual.
-Por que estava com eles então?
-Na verdade - ela hesitou - eu estava tentando descobrir se eu sentia atração por algum homem - Denise não disse nada e apenas arregalou os olhos esperando Nicole terminar - Sempre ouvi meus pais planejarem meu futuro, imaginar minha festa de casamento e a casa, como cuidaria dos netos, e todo esse devaneio, eu apenas segui os sonhos deles e me relacionei com homens, mas nunca, nem quando era criança, eu senti alguma coisa por garotos, apenas os via como amigos e não entendia quando alguma menina chegava perto de mim e ficava falando o quanto fulano era bonito ou fofo.
-Perai! - Denise se levantou - Está me dizendo que não gosta de homens?
-Eu nunca tive a certeza, porque foi um pouco difícil descobrir, caí a ficha depois do primeiro namorado, mas não quis assumir porque não queria decepcionar meus pais.
-Você gosta de mulheres?
Nicole deu uma risada nervosa:
-Ao contrário dos meninos, sempre achei meninas bonitas e por muitas vezes ficava a olhar a boca delas na minha - ela abaixou o olhar esperando a reação de Denise, percebeu por canto de olho que Denise a encarava e olhou para ela também.
A expressão não estava mais de surpresa ao ter descoberto qual era a opção sexual dela, e sim de curiosidade, as duas ficaram se olhando e depois seus rostos se aproximaram.

Dona Amélia do outro lado da porta, ao perceber o silêncio repentino, resolveu abrir uma fresta da porta, e viu as duas. Puxou a porta de novo, encostou na parede e lentamente foi sentando no chão, não sabia se acreditava no que ouviu e viu. Depois ela decidiria.

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