Tive a impressão que
as aulas demorara uma eternidade para passar hoje, mas finalmente o sinal soou
encerrando por hoje. Os meus colegas faziam um barulho enorme para guardar seus
materiais e saírem da sala: zíper fechando a mochila, cadeira sendo arrastada,
passos apressados em direção à saída. Eu fechei meu caderno e me virei para
pegar a mochila quando um engraçadinho bateu na minha mesa e derrubou meu
estojo espalhando todos meus lápis e canetas, “Desculpa!” ele disse sem nem me olhar
direito e saiu correndo. Só estava eu e o professor, ele pegou a maleta e disse
para eu não demorar que ele já estava saindo. Afirmei com a cabeça e me
ajoelhei para recolher todas as canetas e lápis espalhados e um caiu embaixo do
armário onde os professores guardam os materiais.
Já tinha recolhido
todos e faltava aquele debaixo do armário, estiquei o quanto podia para
alcança-lo, quando de repente a luz apagou.
-Hey!
Eu abandonei o lápis
ali embaixo e saí o mais rápido da sala, todas as salas já estavam com as luzes
apagadas e então as luzes do corredor começaram a se apagar também. “Droga!”.
Eu comecei a correr em direção à escada, as luzes do térreo ainda estavam
acesas, mas quando estava apenas na metade das escadas as luzes se apagaram.
Ainda conseguia enxergar porque as luzes externas estavam acesas, fui em
direção ao portão principal e tentei abri-lo, mas já estava trancado.
-Como eles puderam
ser tão irresponsável de nem verificar se havia alguém na escola? – peguei meu
celular e por ironia estava sem sinal – Ótimo!
Já que vou passar a
noite na escola, melhor procurar um lugar confortável para dormir, meus pais
vão ficar preocupados, mas amanhã explico o que aconteceu. Meu celular estava
sem sinal mas servia para iluminar o caminho, no final do corredor, oposto ao
portão de saída e entrada tinha uma luz acesa e vi um vulto passando por lá.
Estranho. Fui apressada até lá, talvez fosse alguém que ainda estava fechando a
escola, mas quando cheguei aonde estava iluminado, era apenas uma sala vazia,
com uma mesa e uma máquina de escrever. Que coisa antiga, e eu adoro coisa
antiga. Rapidamente fui até a mesa e comecei a examinar a máquina, tinha
esquecido a raiva que estava por estar presa na escola e com fome.
Sentei de maneira
confortável e comecei a digitar ansiosa, qualquer coisa, eu só queria sentir o
prazer de apertar aquelas teclas:
“A garota nerd que
adora livros de ficção se tornou a mais popular do colégio. Todos queriam falar
com ela, e todos queriam dicas de livros.”
“Karoline, a garota
mais insuportável ficou careca e aprendeu a nunca mais desprezar as pessoas por
seus estilos”
“Willian finalmente
percebeu que Karoline era uma besta e percebeu que eu sou a garota mais
fantástica para namorar”
Ri ao escrever essas
coisas tão infantis, mas que no meu interior era o que eu realmente desejava.
Mas era claro que isso eram só palavras em um papel. Estava ficando realmente
entediada, escrevi por fim:
“Mas nada disso
importa, porque todos vamos para o vazio do nada, e essa escola explode e
ninguém é mais ninguém.”
Descansei minha
cabeça sobre meus braços e fechei os olhos. Percebi alguém me chamando:
-Ei garota, o que
está fazendo aqui?
Era o inspetor. Eu
estava com uma dor enorme no pescoço e na coluna. Eu dormi?
-Daqui a pouco vai
bater o sinal. Como você entrou aqui antes dos outros?
Já tinha amanhecido?
Nem percebi que tinha dormido ali. Respondi que fiquei trancada no dia
anterior, mas ele nem prestou atenção no que eu disse, ele não estava realmente
interessado. Só perguntou porque era o protocolo.
Eu estava com muitas
dores dessa noite mal dormida, vou aproveitar enquanto todos estiverem entrando
na escola e vou sair discretamente. Preciso ir para casa explicar aos meus pais
onde passei a noite e também dormir de um jeito mais confortável.
Segui o inspetor até
o portão, ele abriu e me olhou desconfiado. Era dever dele me manter na escola,
mas ele não estava nenhum pouco afim de ficar atrás de mim. Aquele olhar era
para que eu não fosse embora, mas que isso ficava a critério da minha
consciência. Estava esperando ele se distrair para eu poder sair o mais rápido
dali, quando um aluno que nunca tinha visto sorriu para mim. Sorri de volta por
reflexo. Quando estava pronta para sair novamente, dois alunos passaram por mim
e acenaram. Interrompi minha fuga novamente e acenei de volta. Que estranho,
por que eles estão falando comigo?
Agora era o momento,
saí e estava descendo as escadas externas quando três meninas me chamaram:
-Oi Aline!
Olhei desconfiada e
vacilei ao cumprimenta-las. Elas sabiam meu nome, mas eu não sabia os delas.
Continuei descendo
as escadas e agora um grupo de meninos, falaram comigo:
-Salve Aline! Depois
a gente pode conversar sobre aquele livro lançamento?
Gaguejando respondi
que sim. Quando finalmente terminei de descer as escadas, duas garotas e um
menino me seguraram pelo braço:
-Onde vai Aline?
Você não é de matar aula.
-Hoje temos aula de
literatura!
Esses três eu
conhecia, era da minha turma, mas estavam longe de serem meus amigos. Era
apenas uma turminha popular.
-Ah! Claro eu estou
indo para sala.
Resumindo esse dia
estranho, acabei não indo para casa naquele momento e passei o dia com aquele
grupo que pelo visto eram meus novos amigos. Toda vez que passava no corredor,
alguém me cumprimentava, ora dizendo meu nome, ora acenando, ou até mesmo
apenas sorrindo. Mas todos me olhavam e todos me conheciam. Estava até sendo
bom essa popularidade.
No final das aulas,
voltei para casa falei com meus pais bem a tempo, eles estavam quase ligando
para a polícia. Brigaram comigo por eu ser tão distraída, mas ficou tudo bem. E
finalmente dormi na minha cama confortável.
Continua...
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