Lauro estava debruçado sobre a escrivaninha escrevendo
algo rapidamente em uma sala cheia de livros, papéis e muita poeira. A
claridade vinha de um pequeno abajur ao seu lado e por entre as persianas da
janela que encontrava-se fechada.
Nesse instante, entrou Ítalo, um rapaz entre seus 20 e
30 anos, alto, da pele bronzeada e o cabelo bagunçado e queimado do sol, e abre
a janela bruscamente fazendo a poeira levantar.
-Ai! Minha retina!
-Está escrevendo de novo sobre ela?
-É...
-Está na hora de você superar, faz muito tempo que vive
entocado nesse quarto, nem sequer está limpando-o –ele passa o dedo sobre a
superfície da estante e retira uma camada de pó.
-Você sempre me diz que devo superar, mas não me diz
como, e fala sem parar de escrever. E não adianta dizer que tenho que sair
daqui porque não há lugar algum aonde ir.
-Ok! –Ele fecha o caderno de Lauro. Vamos mudar a
tática, já que não pode superá-la, vá atrás dela!
-Eu não sei –ele levanta e começa a andar de um lado
para o outro –Não sei onde ela mora, nem se está solteira, ou se continua a
mesma Janaína.
-Está na hora de descobrir isso então. Por onde
começamos?
-Não sei, a ideia foi sua!
-Certo! Vamos começar pelas redes sociais –Lauro foi em
direção ao computador –Espera! Faremos isso em um local arejado, vamos sair
deste muquifo!
Ítalo sai na frente confiante e Lauro o segue sem pegar
nada. Eles passam pelo corredor cheio de mofo nas paredes e descem sete lances
de escada. Quando passam pela entrada principal, Lauro coloca o braço na frente
dos olhos.
-A luz incomoda não é? Falei para não ficar muito tempo
naquele loft. –ele funga o ar- e falando nisso, o cheiro de mofo e pó te
impregnou.
-Tá! Aonde vamos?
-A praça central, o sinal da internet é ótimo lá, e
você vai poder respirar algo melhor sem ser ácaro.
Os dois sentaram lado a lado em um banco na praça e
cada um ficou olhando para a praça esperando o próximo passo.
-E agora? –Lauro resolveu perguntar.
-Pegue seu celular e acesse o facebook e, claro,
procure por ela.
-Que celular? –Ítalo o encara surpreso –Não trouxe seu
celular?
-Não!
-Ok! –ele retira o celular dele do bolso e entrega para
Lauro –Usa o meu.
Lauro pega o celular e fica encarando-o. Ítalo o olha
fixamente.
-Vai me dizer que não sabe usar o facebook? –Lauro
balança a cabeça negando, ele toma o celular de volta –Eu procuro então. Qual o
nome dela inteiro?
-Janaína Oliveira.
-Ih! Apareceram muitas, olhe! Você reconhece alguma?
Lauro pega o celular e fica algum tempo passando o dedo
e depois entrega para Ítalo novamente.
-Nenhuma! –ele respira e coloca a mão entre as pernas
–acho que ela não tem facebook, ela é igual a mim.
-Antiga?
-Se é assim que você acha que sou!
-Vamos mudar a tática. Qual foi a última vez que a viu
e porque perderam o contato?
-Foi há dez anos, quando ela se mudou para o sul.
-Uau! Dez anos? Por qual motivo?
-Os pais dela estavam se separando e ela foi com a
mãe...
-Se ela foi com a mãe, o pai ainda está aqui?
-Acho que sim...
-E o que estamos esperando? Sabe onde ele mora?
-Algumas quadras daqui...
-Vamos agora! –Ítalo levantou animado e Lauro o seguiu
–Bem, vai na frente, eu não sei onde é.
Andaram calados até chegaram em uma casa pequena que a
porta dava direto para a rua, como as casas em Verona. Os dois se olham, e
Ítalo bate na porta, aguardam um momento e, quando vai bater novamente, a porta
se abre e um senhor alto e barrigudo aparece encarando-os.
-Desculpa incomodar senhor...?
-Almir.
-Senhor Almir. Meu amigo Lauro gostaria de uma
informação... –Seu Almir encara Lauro e ele fala gaguejando.
-Prazer ... seu ... seu ... Almir, eu sou ... sou Lauro
e ... e era amigo de Janaína.
-Amigo de minha filha? –ele fica alegre –Porque não
disse antes? Entrem!
-Na verdade só queríamos saber como ela está ... Já faz
um bom tempo que não a vemos ...
-Janaína tinha ido para o sul com a mãe, mas voltou
recentemente, faz um ano mais ou menos, está trabalhando por perto e mora
comigo agora...
-Como poderíamos entrar em contato com ela?
-Bem, pelo celular. Eu tenho o número –Ítalo pega
rapidamente o celular e Almir continua – 987-213. Ela está em horário de almoço
agora.
-Obrigado Seu Almir. Foi um prazer conhece-lo! –Eles
diziam enquanto se afastavam.
-Apareçam novamente! Será um prazer tê-los aqui!
Já bem distantes da casa de Seu Almir, ainda dava para
vê-lo acenando.
-Vamos ligar agora?
-Para de ser mole! Liga agora, estou cedendo meus
créditos.
Ok! –ele fica um tempo olhando para o celular e depois
disca o número registrado na tela, alguns segundos depois alguém atende.
-Alô? É a Janaína? ... Aqui é o Lauro, lembra de mim?
.... Ah, que bom! –ele sorri de orelha a orelha –Seria legal marcar um lugar
para nos reencontrar ... É! Isso! ... Boa ideia! Até logo! – ele devolve o
celular para Ítalo com um sorriso enorme –Ela lembra de mim e quer me
reencontrar!
-Eu sabia que ia dar certo, agora é com você!
-Obrigado! -Lauro saiu correndo enquanto Ítalo o via se
afastar sorrindo.
Em seu loft, foi direto para a ducha, enquanto tomava
banho cantarolava uma música, música de Roberto Carlos, “Chegaste”, saiu e se
olhou no espelho embaçado e passou a mão e sorriu, com a toalha enrolada na
cintura, passou loção de barba e fez enquanto cantarolava, depois escovou os
dentes e passou desodorante. Foi ao quarto e escolheu a roupa cuidadosamente.
Antes de sair, arrumou o cabelo em frente ao espelho e conferiu os bolsos para
não esquecer nada.
No restaurante combinado, Lauro aguardava ansiosamente
por Janaína. Todos que passavam pela porta ele conferia se era ela. Olhava no
relógio, olhava em volta, talvez estivesse na mesa errada, quando de repente,
ele ouve novamente o sininho da porta e a vê. Não tinha mudado nada, continuava
com o sorriso largo, o cabelo curto cacheado, usava um vestido longuete rodado
e um chapeuzinho que combinava com a estampa. Ela o viu e caminhou sorrindo até
ele. Ele ficou extasiado. Depois caiu em si quando ela se aproximou, levantou
rapidamente e puxou a cadeira. Ela se sentou ainda sorrindo.
-Quando tempo Lauro! Você não mudou nada!
-Nem você Jana, continua linda!
-Obrigada! –Ela enrubesce.
O garçom se aproxima e cada um pede um prato. Ele se
afasta.
-Desculpa ter ido embora daquele jeito...
-Pensei em você todos esses anos.
-Eu também, e não passei um dia no sul sem me
arrepender por isso.
-Te esperei todo esse tempo... –ela apenas sorriu –
Agora você veio para ficar, não é?
Ela suspirou e o garçom chegou com os pratos. Ela
começou a comer, ele aguardou um momento e começou a comer também. Depois de um
tempo em silêncio, ela colocou a mão sobre a dele.
-Eu voltei para ficar – e ele sorriu.
Texto: Lucy Batista
Imagem: Disponível no Google imagens
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