Crônica: Quando Eles Partem

A mulher entra no quarto da filha para chamá-la para o jantar e se depara com uma cena que a deixa surpresa, a garota está colocando todas as roupas dentro de uma mala:

-Por que está fazendo as malas?

-Vou-me embora , mãe! Vou conhecer o mundo fantástico que Deus criou. - ela responde sem parar o que estava fazendo para olhá-la.

-Você está louca menina? Pare agora com isso!- ela tenta interferir retirando algumas roupas da mala.

-Não! - ela fica agressiva e tira as roupas da mão da mulher e as recoloca na mala - Pare você!

-Você não pode estar falando sério, para onde pretende ir sem dinheiro?

-Dinheiro é algo sujo que corrompe a humanidade, para onde vou não preciso de dinheiro, só bondade, carisma e amor.

A mulher achando que era apenas uma brincadeira de mal gosto da filha, resolve entrar na brincadeira:

-Hum, entendi! - ela ironiza - E com quem vai? Porque é solitário ir sozinha.

-Vou com meu amante, não ficarei solitária.

-Amante?! - a mulher repete assustada, mas lembra que é uma brincadeira e volta ao tom irônico - Que amante?

-Você o chama de genro e eu o apresento como namorado, mas prefiro a palavra amante, onde o amor parece ser mais ativo - ela está terminando de colocar os últimos pertences na mala e vira para a mãe - Eu digo no sentido real da palavra, não aquele significado chulo de traição - ela fecha a mala.

-E por que está indo embora? - ela se preocupa

-Quero ser livre, longe dessa sociedade corrompida, vou estar com quem me entende e pensa igual a mim em lugares onde queremos estar.

-Enquanto a mim, filha? Irá me deixar para sempre?

-Mãe, nós filhos somos feitos para o mundo, eu te amo, mas não posso me prender aqui, vou te levar no coração, Ah! - Ela caminha até a cômoda e pega um porta retrato onde está ela, a mãe e o irmão mais novo olhando para outro lugar - Vou levar isso comigo, para ter certeza que nunca esquecerei de onde vim!

A Mulher segura uma lágrima, tenta manter a calma, afinal é só uma brincadeira e amanhã a mala estará desfeita.

-Então, - ela beija a testa da menina - o jantar está na mesa!

Ela sai do quarto pensativa, mesmo sabendo que não é verdade, algo a intriga. Ela janta na presença do marido e do filho mais novo que em vez de jantar está brincando com a comida:

-Onde está Steffanie? - pergunta o homem sem tirar os olhos do prato!

-No quarto, fazendo gracinhas! - ela olha para o menino e o repreende com o olhar.

-Não é hora para brincadeira, mande-a descer agora!

A mulher obediente sobre novamente até o quarto da filha e bate na porta:

-Steffanie! Seu pai mandou descer agora! - Ela não ouve respostas e bate novamente - Steffanie?!

Sem resposta ela abre a porta e encontra o quarto vazio:

-Está de brincadeira comigo garota? Apareça agora! - ela já preocupada procura pela mala e também não a encontra, sente um vento e percebe a janela aberta com as cortinas balançando:

-Ela realmente se foi? Ela se foi para sempre!

Lucy Batista